terça-feira, 25 de outubro de 2011

Alho revela ação antimicrobiana e antiviral semelhante à amoxicilina

Atualmente são conhecidas 600 espécies de alho e o gênero Allium é frequentemente referência em estudos e utilizado em medicina devido às propriedades antimicrobiana e antiviral, entre outras. Com base no Allium sativum, comumente consumido no Brasil, e no Allium tuberosum, o conhecido alho nirá, que compõe a culinária japonesa, o professor de química do Cotil (Colégio Técnico de Campinas), da Unicamp, Paulo César Venancio pesquisou as atividades antimicrobianas dessas espécies em ratos, comparando-as com o conhecido antibiótico amoxicilina.
Para chegar à escolha do alho, Venancio pesquisou inicialmente quais as plantas que apresentavam melhor eficácia contra infecção, mais especificamente no combate aos Staplylococcus aureus, frequentemente isolado na pele, glândulas cutâneas e em mucosas.

Ao justificar a seleção da bactéria, o docente esclarece que ela, que faz parte da microbiota humana, ao encontrar condições favoráveis, pode entrar na corrente sanguínea e se alojar em vários órgãos ou tecidos e causar efeitos devastadores. Lembra a propósito que a bactéria é uma das maiores responsáveis pelas infecções hospitalares. Moveu-o, ainda, o fato de a Anvisa ter lançado em 2010 uma relação de plantas medicinais em que o alho, tradicionalmente considerado antisséptico, tem esse efeito destacado.

O pesquisador, entretanto, enfatiza que o estudo teve por objetivo principal avaliar in vivo a atividade antimicrobiana de extratos dos dois alhos mencionados sobre a infecção estafilocócica em ratos. Paralelamente, determinou as mesmas atividades in vitro, ou seja, com bactérias cultivadas em laboratório. A comparação dos resultados obtidos nos dois estudos permitiu aventar eventuais efeitos fisiológicos sobre os animais. Mais ainda: para estabelecer parâmetros com outros trabalhos desenvolvidos, Venancio determinou a composição química dos extratos, ou seja, a qualidade e a quantidade de substâncias neles presentes, o que possibilitaria confirmar aquelas responsáveis pelo principio ativo.

Sintetizando, Venancio esclarece que a proposta foi a de determinar por cromatografia gasosa a composição química das soluções aquosas e hidroalcoólicas à base de A. tuberosum e A. sativum; verificar a sensibilidade dessas soluções por meio de testes de concentração inibitória e bactericida mínima; e comparar o efeito de extratos dos dois alhos com o da amoxicilina, costumeiramente utilizada contra infecção.

Segundo o pesquisador, o trabalho foi orientado na busca de uma alternativa para combater as infecções bacterianas mais incidentes hoje. "Os antibióticos utilizados são específicos para cada tipo de cepa de bactérias,observando-se cada vez mais o aumento de suas resistências a eles. A ideia foi então a de buscar alternativas junto à natureza que possam vir a somar como possibilidades a mais no controle das infecções bacterianas" , afirmou.

Para Venancio, o resultado das análises dos extratos revelou a presença de compostos orgânicos e organossulfurados responsáveis pela ação antimicrobiana e provavelmente resultantes da degradação da alicina presente no alho.

Os testes in vitro confirmaram a ação antimicrobiana do A. sativum, mas surpreendentemente mostraram que esse efeito não se manifesta no caso do A. tuberosum.

No modelo utilizado para os ratos, os extratos dos dois alhos mencionados nas diferentes concentrações utilizadas foram capazes de diminuir de maneira eficaz e comparável à amoxicilina a infecção estafilocócica.

Procedimentos

O pesquisador preparou inicialmente sucos a partir dos alhos selecionados, adicionando-os a pesos iguais de água. Triturada em liquidificador, a mistura foi filtrada e o extrato esterilizado. Neles, que serviram para os testes in vivo e in vitro, foram determinadas as substâncias presentes.

Os animais selecionados passaram a ser tratados 24 horas depois de infectados. Separados em grupos foram-lhe administrados a cada seis horas (horas zero, 6, 12, 18 e 24), amoxicilina e os extratos de alho através de uma agulha de gavagem introduzida até o estômago dos animais. Os animais foram distribuídos em seis grupos: o grupo de controle recebeu apenas soro fisiológico; outro, amoxicilina (50mg por kg do animal); outros dois, 100 mg e 400 mg por kg de animal, respectivamente, de um dos alhos; e os outros dois grupos as mesmas quantidades do outro alho. Um terço dos animais em cada grupo foi sacrificado nos tempos 6, 12 e 24 horas. Todos esses animais foram submetidos em cada tempo a análises microbiológicas para determinação das bactérias ainda existentes.

Os resultados mostraram que, depois de 24 horas, os dois alhos levaram a resultados muito parecidos aos da amoxicilina. O pesquisador esclarece que as bactérias não foram totalmente mortas por causa, provavelmente, do tempo reduzido das administrações. A duração do experimento não foi estendida para preservar os animais e em razão dos custos. Um tratamento estatístico da curva obtida permite prever o que aconteceria se o tratamento continuasse e o tempo que deveria perdurar para extermínio das bactérias.

Nas análises in vitro, a amoxicilina e os extratos de alho foram testados em meio de cultura das bactérias. A surpresa, como já se disse, foi a ausência total de ação do extrato obtido do alho japonês, mas que mostrara ação efetiva quando ingerido pelos ratos. O pesquisador aventou então a possibilidade de o alho japonês estimular o sistema imunológico do rato. Os dois alhos, além da atividade direta sobre os micro-organismo, ativariam o sistema imunológico. Essa, segundo ele, seria uma possível explicação.
Paulo Cesar Venancio defende que, se o médico não desejar prescrever apenas o alho nos casos de infecção, pode associá-lo ao antimicrobiano de forma a alcançar sinergismo. Para ele, a ideia do uso simultâneo é melhorar a ação dos antimicrobianos e quem sabe futuramente recuperar antibióticos que não fazem mais efeito.

A análise química da composição dos extratos se justifica porque o alho é constituído por muitas substâncias, daí a importância de determinar quais estavam presentes nos extratos. Porque, afirma Venâncio, "hoje importa na medicina conhecer isoladamente os compostos presentes para poder isolá-los e identificar os responsáveis pelos princípios ativos". Ele, entretanto, esclarece que seu objetivo foi o de apenas identificar os compostos para poder estabelecer uma comparação com os estudos já existentes.

Diz que esse parâmetro precisava ser dado à comunidade científica para que pudessem ser comparadas as composições dos alhos aqui cultivados com os já estudados. Os estudos prévios por ele realizados mostram que os componentes mais ativos são os sulfurados, compostos orgânicos à base de enxofre, provavelmente resultantes da degradação da alicina. O estudo permitiu constatar que esses compostos também são preponderantes nos alhos utilizados.

A ação do alho japonês é pouco conhecida e existem poucos estudos sobre ele. Segundo o autor, o que diferencia seu trabalho dos já existentes é a escolha das bactérias Staplylococcus aureus, as maiores responsáveis pelas infecções hospitalares.

Fonte: Unicamp

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cuidados na coleta de urina e processamento de sangue podem evitar erros de diagnóstico

Em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tornou oficiais as novas regras que regulamentam a venda de antibióticos, com o objetivo, entre outros, de evitar interações medicamentosas arriscadas e tratamento inadequado.
Além desse procedimento, vários outros podem auxiliar no tratamento adequado de pacientes. Um deles refere-se à correta realização dos exames laboratoriais.
Para sanar dúvidas de profissionais acerca dos cuidados para evitar contaminação de coleta de urina ou processamento de sangue, o Anti-R conversou com o médico Jorge Luiz Sampaio, doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e líder médico e científico do setor de Microbiologia do Fleury Medicina e Saúde.
Anti-R: Quais as consequências da realização inadequada da coleta de sangue e urina?
Jorge Luiz Sampaio O sangue é, normalmente, um líquido estéril, livre de microorganismos. Para chegarem aos vasos sanguíneos, microorganismos como o staphylococus coagulase negativo, comum em quase todas as pessoas, geralmente entram primeiramente em contato com a pele, espalhando-se rapidamente pela corrente sanguínea, o que pode acontecer, inclusive, no momento da coleta.
Já a coleta de urina deve ser feita preferencialmente em laboratório. Por quê? Porque bactérias se multiplicam a cada 20 minutos. Assim, se a urina fica em temperatura ambiente por uma hora, a contagem bacteriana aumenta e a cultura é falsamente positiva.
Assim que coletada, a urina é colocada no meio de cultura e incubada. Quando positiva, realizam-se procedimentos que visam direcionar o tratamento médico. Assim, se houver uma bactéria, o médico pode decidir ampliar a cobertura do tratamento microbiano. Dependendo da gravidade do paciente, ele pode receber tratamento com antibióticos. Logo, uma coleta contaminada pode levar a erros de diagnósticos e, como consequência, o paciente pode receber tratamento com antibiótico sem necessidade.
Anti-R: Quais cuidados o profissional deve ter ao realizar a coleta de sangue e urina para exames de cultura e antibiograma, a fim de evitar contaminações?
JLS Tanto em adultos quanto em crianças, é necessário realizar higienização com água e sabão antes da coleta, o que reduz bastante o risco de contaminação. Também é importante que não se coloquem na criança pomadas e cremes de óxido de zinco, que evitam assaduras, porque isso dificulta a coleta. Caso a criança vá ao laboratório com esse tipo de pomada, deve-se higienizá-la com sabão neutro e água morna antes de limpar com antisséptico, a fim de reduzir a quantidade de bactérias existentes.
Outro cuidado com bactérias na região perineal é realizar higienização na criança a cada 5 minutos, caso ela não urine. Logo que a urina for coletada, deve ser imediatamente levada à área técnica para ser colocada no meio de cultura.
Já na coleta de sangue, é fundamental o uso de luvas estéreis. Também é necessário realizar antissepsia na pele do paciente, bem como no frasco que receberá a amostra de sangue. Usar um frasco não higienizado pode levar à contaminação da hemocultura.
Anti-R: Quais orientações um paciente deve receber antes de realizar a coleta de urina fora do laboratório?
JLS A coleta deve, preferencialmente, ser realizada em laboratório. Se isso não for possível, ou em caso de uma criança que não consiga urinar no laboratório, pode-se realizar a coleta em casa. Os cuidados com higienização devem ser os já mencionados, e o recipiente com a urina deve ser transportado em contato com gelo.
Anti-R: A contaminação da coleta é um problema recorrente no Brasil?
JLS Este é um problema mundial, que requer treinamento frequente. No caso de hemocultura, é necessário relembrar aos profissionais que utilizem clorexidina alcoólica. A antissepsia é menos eficaz apenas com o álcool a 70% do que com a clorexidina.
Anti-R: O que pode ser feito para minimizar o problema da contaminação de coleta?
JLS Não esperar o antisséptico evaporar é um erro comum, e isso culmina em contaminação. Portanto, é necessário aguardar a evaporação completa do álcool, sem pressa para a realização da coleta. Em caso de haver outros exames feitos juntamente com a hemocultura, a orientação é inocular o sangue no frasco de hemocultura.
 
Por Sirlene Farias (aluna de Jornalismo da Universidade Nove de Julho)
Fonte: Boletim Anti-R (www.uninove.br/inove)

Pseudobacteremia em pediatria

A hemocultura é considerada o exame padrão ouro para a detecção de pacientes com bacteremia. O isolamento do microorganismo no sangue pode sugerir um diagnóstico definitivo, permitir o direcionamento da terapia contra o microorganismo específico e proporcionar valor prognóstico. Como qualquer teste, no entanto, resultados falso-positivos podem limitar a utilidade desta ferramenta importante.
Nesse contexto, a pseudobacteremia se insere pela ocorrência de resultados falso-positivos em hemoculturas, que pode ser decorrente da introdução de microorganismos contaminantes nas amostras, quer na retirada do sangue ou durante o seu processamento no laboratório de microbiologia. Além disso, pseudo-surtos de bacteremia também foram atribuídos à contaminação da hemocultura durante a coleta ou transporte ou processamento do sangue.
O isolamento de agentes contaminantes em uma cultura de sangue tem um impacto negativo sobre o manejo do paciente, incluindo erros de diagnóstico, testes de diagnóstico adicionais e desnecessários, administração desnecessária de antibióticos, custos crescentes e prolongamento do tempo de hospitalização.
É crescente o uso de cateter vascular central (CVC) e de outros dispositivos invasivos em pacientes críticos. A interpretação dos resultados de uma hemocultura nestes casos é particularmente difícil porque, esses indivíduos possuem risco elevado para o desenvolvimento de bacteremia, mas tais resultados também podem indicar contaminação da hemocultura. A incerteza clínica associada com a interpretação dos resultados ambíguos relaciona-se com maior custo de tratamento, como tem sido demonstrado em diversos estudos de pacientes adultos e pediátricos.
As diretrizes clínicas e microbiológicas para a diferenciação da bacteremia verdadeira e a pseudobacteremia são citadas em artigos científicos. Os critérios laboratoriais para uma bacteremia verdadeira incluem: crescimento de micoorganismos dentro de 48 h e múltiplas hemoculturas positivas para o mesmo organismo. Além disso, a identificação do microorganismo, o número de culturas positivas, o tempo necessário para o crescimento do microorganismo, a quantidade destes, dados clínicos e laboratoriais, fonte do material biológico e o processamento por métodos automatizados usando tecnologia da informação, podem indicar uma bacteremia verdadeira. Em contrapartida, o crescimento de microorganismos colonizantes da pele ou o crescimento de bactérias durante o tratamento antibiótico sugerem contaminação da amostra.
A pseudobacteremia é um desafio, em especial, para recém-nascidos e crianças. Estudos sugerem que a contaminação das hemoculturas ocorre com mais freqüência nessa população, particularmente em crianças menores. A relação entre uma hemocultura verdadeira e uma contaminada é de quase 1:1
neste grupo populacional. Além disso, a prática atual revela que na maioria dos casos, a coleta de sangue restringe-se a uma única amostra.
Em um esforço para reduzir o desconforto desnecessário, os pediatras costumam usar cateteres venosos existentes para a obtenção de culturas em vez de punção venosa periférica. Os dados sobre o impacto desta prática sobre as taxas de contaminação são mistos. Em um estudo de 2 anos de observação comparando as taxas de contaminação para as amostras de cultura estabelecida via punção venosa para os espécimes para cultura elaborado através de cateteres venosos em crianças, verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa na taxa de culturas falso-positivas (9,1% para 2,8%). Entretanto, outros estudos não observaram diferença nas taxas de contaminação de acordo com o local de obtenção a amostra. Devido à relutância de pediatras em realizar outros procedimentos invasivos para a coleta de sangue e devido à falta de evidências claras sobre qual a melhor abordagem que pode evitar a contaminação da amostra, a coleta de hemocultura através de cateteres vasculares continua sendo realizada em serviços de pediatra.
A coleta de sangue, em uma única amostra, é particularmente comum em pacientes pediátricos. Este fato, combinado com o aumento da coleta de amostras de sangue pelo cateter, torna o diagnóstico diferencial entre bacteremia verdadeira e a “pseudobacteremia” (contaminação da amostra) desafiadora. Para combater este desafio, os investigadores têm elaborado várias estratégias, incluindo a dosagem de proteína C-reativa sérica, o tempo para positividade de hemoculturas, a quantidade de crescimento e estado clínico do paciente.
Pesquisas sugerem alguns métodos, para diminuição a pseudobacteremia como: fazer uso da técnica de punção venosa estéril; melhorar a sensibilidade da hemocultura, através do aumento do volume de sangue coletado.
Estudos em pseudobacteremia com uma população pediátrica mostram que as culturas de sangue retiradas por pediatras com mais vivência no procedimento, levam à um menor risco de contaminação do que aquelas obtidas por profissionionais menos experientes, indicando que a experiência acumulada com o procedimento é um fator importante na redução de erros diagnósticos. O estudo também mostra que a coleta de hemoculturas em crianças não-colaborativas aumenta significativamente o risco de contaminação da amostra e isso é independente da experiência do pediatra ou do profissional que realiza a coleta. Estes resultados reforçam a necessidade de se melhorar as habilidades técnicas, principalmente em profissionais inexperientes, considerando os pacientes pediátricos.

Por Márcia Yumi Yonekura e Natalia Laudanna, sob orientação do Prof. Dr. Milton S. Lapchik 
Fonte: Boletim Anti-R (www.uninove.br/inove)

Pseudobacteremia causada por Staphylococcus coagulase negativo

O Staphylococcus coagulase-negativo tem se destacado como potencial contaminante de exames microbiológicos por colonizarem a pele. A hemocultura positiva para o Staphylococcus coagulase negativo, durante muitos anos, foi sempre interpretada como contaminação e não infecção propriamente dita. Atualmente, um dos maiores dilemas enfrentados nos laboratórios de microbiologia clínica, assim como pelos médicos, é justamente a distinção entre isolados significantes (patogênicos) de isolados contaminantes dos frascos de hemocultura. Embora vários critérios tenham sido utilizados na tentativa de diferenciar bacteremias clinicamente significativas e pseudobacteremias (contaminação), ainda não há um consenso sobre o assunto.
A definição de hemocultura positiva por agente contaminante, foi semelhante em vários estudos, apresentando os seguintes critérios:
- somente uma hemocultura positiva.
- presença de hemocultura positiva para outras bactérias ou fungos dentro de 72 horas após o isolamento de Staphylococcus coagulase negativo.
- hemocultura positiva para Staphylococcus coagulase negativo sem sinais clínicos de infecção ou na ausência de fatores de risco para aquisição deste microorganismo.
- duas ou mais hemoculturas positivas para diferentes espécies de Staphylococcus coagulase negativo.
- positividade das hemoculturas após 48 ou 72 horas.
- isolamento de outras espécies que não sejam Staphylococcus epidermidis.
Quando se têm várias hemoculturas de um mesmo paciente apresentando o crescimento de uma mesma espécie de Staphylococcus coagulase negativo (microorganismo colonizante comum da pele) e também com o mesmo antibiograma, a bacteremia será considerada como verdadeira. Em contrapartida, se em apenas um par de hemocultura houver o crescimento desse mesmo microorganismo, identificado após 72 horas, o agente será considerado como contaminante.
Importante ressaltar que a ocorrência de não-conformidades com as técnicas assépticas de assistência em saúde levando, portanto, a uma pseudobacteremia, ocasiona o uso inadequado de antimicrobianos e, consequentemente, falha terapêutica. A importância de um bom laboratório de microbiologia para processamento das hemoculturas assim como técnicas assépticas de coleta corretamente executadas são fundamentais, já que, o Staphylococcus coagulase negativo, por exemplo, é considerado como agente potencial contaminante de hemoculturas.
Sendo assim, pode-se concluir que as práticas assépticas seguras e a educação nos processamentos de coleta de hemoculturas deve ser permanente, com o foco em melhoria contínua dos processos assistenciais e em microbiologia clínica.

Fonte: Boletim Anti-R ( www.uninove.br/inove)

Vacina contra a dengue é testada em cinco capitais brasileiras

Cinco capitais brasileiras – Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Natal e Vitória – estão participando dos testes em seres humanos de uma vacina contra a dengue. Os dados serão analisados em conjunto com os de outros países latino-americanos e asiáticos, onde a dengue também é uma epidemia. Em testes anteriores, o medicamento tem se mostrado seguro para a saúde.

Hoje o único método de prevenir a transmissão do vírus é agir sobre o Aedes aegypti, mosquito transmissor, seja com inseticidas – fumacê – ou com a eliminação dos criadouros – água parada.

Os voluntários escolhidos para a pesquisa têm entre 9 e 16 anos e são acompanhados de perto por uma equipe médica enquanto fizerem o tratamento. Dois terços dos pacientes recebem a vacina candidata e os demais tomam doses de placebo – uma substância que não tem efeito no corpo.

A vacina é composta por três doses, que devem ser dadas com intervalos de seis meses. Todos os pacientes serão observados durante o período, e qualquer caso de febre deve ser relatado aos médicos pesquisadores. O objetivo é saber quais crianças e adolescentes vão ter dengue ou não.

Para que ela seja considerada eficiente, o número – relativo – de casos de dengue entre os pacientes que tomaram a vacina precisa ser no máximo 30% do número de casos entre os que receberam doses de placebo.
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“Essa premissa de 70% de eficácia foi compartilhada com alguns órgãos reguladores como, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde”, diz o médico Pedro Garbes, diretor regional de desenvolvimento clínico na América Latina do Sanofi Pasteur, laboratório responsável pela produção da vacina.

Os voluntários precisam morar em áreas expostas ao risco de transmissão de dengue; caso contrário, é natural que nenhum deles desenvolva a doença e a pesquisa não tenha validade.

“Eu gosto de dar como exemplo uma coisa meio absurda. Você está testando uma vacina para HIV e escolhe vacinar cem freiras num convento. Dois anos depois, você volta, faz os exames e fala que a vacina funcionou muito bem. Você escolheu a população errada e se esqueceu de perguntar se elas tinham risco de adquirir a infecção”, justifica Reynaldo Dietze, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador da pesquisa no Brasil.

Como funciona
Toda vacina é feita com material do próprio agente causador da doença – um vírus, no caso da dengue –, em forma atenuada ou morta, que serve para preparar o sistema imunológico. Após tomar a imunização, o corpo será capaz de reconhecer o vírus e terá anticorpos para combatê-lo.

A dengue tem quatro tipos de vírus diferentes que provocam os mesmos sintomas. Uma vacina tem que ser capaz de preparar o sistema imunológico para todos eles. Nessa pesquisa, os cientistas trabalharam separadamente com cada um dos tipos. É como se eles tivessem feito quatro vacinas diferentes e as misturado em uma só.

No passado, vacinas que usavam o próprio vírus da dengue provocaram uma reação muito forte nos pacientes e não foram consideradas seguras. Por isso, os cientistas recorreram à engenharia genética para colocar o material genético dos vírus da dengue em outro organismo.

“Recortou-se parte do seu genoma e se colocou essa parte do genoma deles em outro vírus: o vírus vacinal da febre amarela”, conta Pedro Garbes. Segundo o médico, a vacina da febre amarela já existe há 70 anos e é considerada bastante segura.

Caso a vacina seja aprovada, o laboratório pretende colocá-la no mercado em 2014.

Pesquisa nacional
Esse não é o único grupo de pesquisadores empenhado em elaborar uma vacina para a dengue. O Instituto Butantan, vinculado ao governo do estado de São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz, do governo federal também têm projetos nesse sentido.

Alexander Precioso, diretor de testes clínicos do Instituto Butantan, coordena uma equipe que trabalha com esse objetivo, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA. A primeira fase de testes começa ainda esse ano.


Para ele, não é um problema grave se alguém chegar a uma fórmula antes e não se trata de uma corrida com um único ganhador. “Todas as iniciativas são muito bem-vindas, a princípio”, diz Precioso.

“A demanda é mundial”, lembra o especialista. “Ninguém terá a capacidade de produzir todas as doses necessárias”, acrescenta.

Precioso afirma ainda que é importante para o Brasil ter uma vacina produzida por uma instituição local e com financiamento público.

“Nós acreditamos que ela terá o resultado esperado e mais adequado para o nosso país”, diz. “É claro que por ser uma produção nacional, nós temos a expectativa de que ela tenha o custo inferior”.


Entendendo a Dengue:





Por Tadeu Meniconi , Fonte: portal G1.com