quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pseudobacteremia em pediatria

A hemocultura é considerada o exame padrão ouro para a detecção de pacientes com bacteremia. O isolamento do microorganismo no sangue pode sugerir um diagnóstico definitivo, permitir o direcionamento da terapia contra o microorganismo específico e proporcionar valor prognóstico. Como qualquer teste, no entanto, resultados falso-positivos podem limitar a utilidade desta ferramenta importante.
Nesse contexto, a pseudobacteremia se insere pela ocorrência de resultados falso-positivos em hemoculturas, que pode ser decorrente da introdução de microorganismos contaminantes nas amostras, quer na retirada do sangue ou durante o seu processamento no laboratório de microbiologia. Além disso, pseudo-surtos de bacteremia também foram atribuídos à contaminação da hemocultura durante a coleta ou transporte ou processamento do sangue.
O isolamento de agentes contaminantes em uma cultura de sangue tem um impacto negativo sobre o manejo do paciente, incluindo erros de diagnóstico, testes de diagnóstico adicionais e desnecessários, administração desnecessária de antibióticos, custos crescentes e prolongamento do tempo de hospitalização.
É crescente o uso de cateter vascular central (CVC) e de outros dispositivos invasivos em pacientes críticos. A interpretação dos resultados de uma hemocultura nestes casos é particularmente difícil porque, esses indivíduos possuem risco elevado para o desenvolvimento de bacteremia, mas tais resultados também podem indicar contaminação da hemocultura. A incerteza clínica associada com a interpretação dos resultados ambíguos relaciona-se com maior custo de tratamento, como tem sido demonstrado em diversos estudos de pacientes adultos e pediátricos.
As diretrizes clínicas e microbiológicas para a diferenciação da bacteremia verdadeira e a pseudobacteremia são citadas em artigos científicos. Os critérios laboratoriais para uma bacteremia verdadeira incluem: crescimento de micoorganismos dentro de 48 h e múltiplas hemoculturas positivas para o mesmo organismo. Além disso, a identificação do microorganismo, o número de culturas positivas, o tempo necessário para o crescimento do microorganismo, a quantidade destes, dados clínicos e laboratoriais, fonte do material biológico e o processamento por métodos automatizados usando tecnologia da informação, podem indicar uma bacteremia verdadeira. Em contrapartida, o crescimento de microorganismos colonizantes da pele ou o crescimento de bactérias durante o tratamento antibiótico sugerem contaminação da amostra.
A pseudobacteremia é um desafio, em especial, para recém-nascidos e crianças. Estudos sugerem que a contaminação das hemoculturas ocorre com mais freqüência nessa população, particularmente em crianças menores. A relação entre uma hemocultura verdadeira e uma contaminada é de quase 1:1
neste grupo populacional. Além disso, a prática atual revela que na maioria dos casos, a coleta de sangue restringe-se a uma única amostra.
Em um esforço para reduzir o desconforto desnecessário, os pediatras costumam usar cateteres venosos existentes para a obtenção de culturas em vez de punção venosa periférica. Os dados sobre o impacto desta prática sobre as taxas de contaminação são mistos. Em um estudo de 2 anos de observação comparando as taxas de contaminação para as amostras de cultura estabelecida via punção venosa para os espécimes para cultura elaborado através de cateteres venosos em crianças, verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa na taxa de culturas falso-positivas (9,1% para 2,8%). Entretanto, outros estudos não observaram diferença nas taxas de contaminação de acordo com o local de obtenção a amostra. Devido à relutância de pediatras em realizar outros procedimentos invasivos para a coleta de sangue e devido à falta de evidências claras sobre qual a melhor abordagem que pode evitar a contaminação da amostra, a coleta de hemocultura através de cateteres vasculares continua sendo realizada em serviços de pediatra.
A coleta de sangue, em uma única amostra, é particularmente comum em pacientes pediátricos. Este fato, combinado com o aumento da coleta de amostras de sangue pelo cateter, torna o diagnóstico diferencial entre bacteremia verdadeira e a “pseudobacteremia” (contaminação da amostra) desafiadora. Para combater este desafio, os investigadores têm elaborado várias estratégias, incluindo a dosagem de proteína C-reativa sérica, o tempo para positividade de hemoculturas, a quantidade de crescimento e estado clínico do paciente.
Pesquisas sugerem alguns métodos, para diminuição a pseudobacteremia como: fazer uso da técnica de punção venosa estéril; melhorar a sensibilidade da hemocultura, através do aumento do volume de sangue coletado.
Estudos em pseudobacteremia com uma população pediátrica mostram que as culturas de sangue retiradas por pediatras com mais vivência no procedimento, levam à um menor risco de contaminação do que aquelas obtidas por profissionionais menos experientes, indicando que a experiência acumulada com o procedimento é um fator importante na redução de erros diagnósticos. O estudo também mostra que a coleta de hemoculturas em crianças não-colaborativas aumenta significativamente o risco de contaminação da amostra e isso é independente da experiência do pediatra ou do profissional que realiza a coleta. Estes resultados reforçam a necessidade de se melhorar as habilidades técnicas, principalmente em profissionais inexperientes, considerando os pacientes pediátricos.

Por Márcia Yumi Yonekura e Natalia Laudanna, sob orientação do Prof. Dr. Milton S. Lapchik 
Fonte: Boletim Anti-R (www.uninove.br/inove)

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